quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Lições do mestre Armindo Trevisan aos 50 anos de poesia

Meu exemplar do primeiro livro de Trevisan,
resgatado de um baú de saldos da Feira do Livro.
Não faz muito eu lembrava aqui dos 25 anos do meu primeiro livro, Viagens de uma Caneta por meus Estados de Espírito. Mas ficou faltando uma parte importante da história.

Na ocasião, o troféu atribuído pelo Prêmio UFRGS de Literatura (que tive de brigar pra receber) levou o nome do poeta e professor Armindo Trevisan. Coube ao Juremir Machado da Silva, em sua coluna no Correio do Povo, lembrar que o Trevisan está completando 50 anos de carreira, iniciada em 1967 com a publicação de A Surpresa de Ser. Livro que, por sua vez, foi contemplado com o prêmio Gonçalves Dias, da União Brasileira de Escritores, tendo como jurados nada menos que Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Cassiano Ricardo. Logo, concluí, utilizando meus conhecimentos matemáticos, quando da minha estreia em livro Trevisan completava 25 anos da sua.

Mas não sendo este um blog de numerologia, vamos adiante. Quis o destino que não nos conhecêssemos naquele momento. Ele não pode vir ao meu lançamento, por se encontrar em viagem, fora do país. Isso só veio a acontecer cinco anos mais tarde, quando me matriculei no curso de extensão que ele ministrou na PUC-RS, A Poesia como Conhecimento e Experiência. Naquele momento, eu preparava meu terceiro livro, para submetê-los ao Instituto Estadual do Livro, que viria a publicá-lo no ano seguinte, sob o título de Dança das Palavras. Trevisan generosamente leu os originais, fazendo críticas muito bem-vindas. Sem contar o curso em si mesmo, em que tratava, com entusiasmo contagiante, de conteúdos de ordem prática sobre poesia (que não se encontravam no Mestrado em Letras, que eu cursava na época), muito úteis.

Talvez a mais importante das lições aprendidas naqueles dias, e incorporada ao que escrevi deste então, foi a de ler os poemas em voz alta. Até então, eu pensava o metro e a rima dos versos muito visualmente. Tímido, nunca fui afeito à declamação. Mas desde então, o ritmo passou a ter uma importância cada vez maior até hoje, quando muitas vezes é o ritmo de uma frase qualquer que me chama a atenção e, ao ser anotado, transforma-se no primeiro verso de alguma coisa que ainda não sei o que será.

Para homenagear o mestre, vai aqui um singelo poema escrito naqueles dias, como um exercício  proposto por ele. O último verso, de Fernando Pessoa, é tomado como tema do poema, que foi selecionado para uma antologia no concurso Via Verso, da Prefeitura de Ourinhos SP, ainda naquele ano; e incluído depois em Dança das Palavras.

GLOSANDO PESSOA 

Mal percebo o sentimento
Mais adorável do mundo,
E ele se vai, após curto
E belo espaço de tempo.

E eis que me concentro tanto
No breve instante perdido,
Que finalmente me canso,
E cansado então desisto.

Bem depois, quando nem penso
Em coisa nenhuma, sinto
Tornar, pleno, o momento:
Sentir é estar distraído.

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