quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Independência ou morte?

[Já lá se foram quatro meses sem poema novo nesse blog. E como parecia facilmente alcançável, quando iniciei, a meta de publicar um poema por semana...]

Para quem, como eu, aprendeu o significado de pátria num tempo em que ela não era democrática (ou, radicalizando um pouco, quando era ainda menos democrática que hoje), pode ser difícil separá-la daquela sensação de ser um pato, que começa a se instalar quando você vai ficando adulto e entendendo melhor o significado daquelas horas cívicas, daqueles desfiles escolares, daquelas bandeirinhas agitadas para homenagear ditadores e recepcionar autoridades não eleitas. É no que eu costumo pensar, em dias como hoje.

Pois tava eu aqui, então, nesse feriado, tentando terminar uns poemas rascunhados, passando outros a limpo, e eis que me sai isso, bem a propósito desse momento difícil, confuso, por vezes deprimente. Um inédito, portanto, para compensar os leitores por esses meses de silêncio. E uma pitada de ironia, pra segurar o rojão.

Soneto XXXV


Com a obra da tua vida, teu esforço,
tua casa, teu jardim, tua expertise,
apenas arranhaste a superfície
sob a qual trafegam rios de esgoto.

Tua interpretação de Wittgenstein
até que vende bem, como auto-ajuda.
Com frequência, a memória te trai,
em meio àquele poema de Neruda.

Foram ficando pra trás, as vanguardas;
a coisa não andou mais que um milímetro,
e mesmo assim - em que sentido?

Retroceder, jamais? Hacia adelante?
Seguir o rumo de um bom restaurante?
Teu GPS pede as coordenadas.

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